Sóbrios
- JUBCor
- 16 de set. de 2020
- 3 min de leitura
Entramos no segundo mês do isolamento social. Os casos de vítimas da pandemia começam a ficar mais pessoais. Antes eram apenas nomes e números, agora são conhecidos, amigos e parentes. Antes, doía o coração por empatia. Agora o sofrimento é mais profundo, compartilhando a aflição de quem nos é chegado. Agora, dói em nós.
Se atentamos para o cenário econômico, dói de outro jeito. São tantos os que já foram demitidos porque as pequenas empresas, maioria absoluta do mercado de trabalho, não têm como manter uma folha de pagamentos sem entradas. Outros, do mercado informal, milhões de brasileiros, estão a depender de uma ajuda alimentícia. Outros ainda, como nossas igrejas, fazendo acordos para não demitir ninguém, mas tendo cortes de salário e de sustento ministerial para todos os obreiros, com redução de 10% a 20%.
Já o mundo político nos mostra como pessoas tão inteligentes estão tão despreparadas para governar um país continental por causa de interesses partidários, pessoais ou corrupção. Ameaças de impeachment, de protestos contra esse ou aquele governador, contra os abusos de algumas prefeituras, culminando com uma força policial dividida entre desumanos e humanitários. Caos moral. Trevas profundas.
Tudo isso nos deprime. Quem se sente seguro? E quem vai sair de casa dessa vez para fazer as compras de frutas e legumes, dos itens que não podem ser estocados porque apodrecem. Quem vai ser exposto aos riscos indo para a rua por algum motivo? Preocupação, emoções reprimidas e nenhuma luz no fim do túnel. Não ainda.
Ainda bem que há o outro lado da moeda. Toda moeda tem dois lados.
O texto de hoje está em 1 Tessalonicenses 5:8-11.
"8 Nós, porém, que somos do dia, sejamos sóbrios, vestindo a couraça da fé e do amor e o capacete da esperança da salvação. 9 Porque Deus não nos destinou para a ira, mas para recebermos a salvação por meio de nosso Senhor Jesus Cristo. 10 Ele morreu por nós para que, quer estejamos acordados quer dormindo, vivamos unidos a ele. 11 Por isso, exortem-se e edifiquem-se uns aos outros, como de fato vocês estão fazendo."
O texto é uma chamada à perseverança e à confiança em Deus. Nós somos do dia, isto é. somos da luz. Não compactuamos com as trevas, não somos a favor das injustiças, Temos hábitos e valores que nos elevam a alma e a conduta, garantindo que não vamos sucumbir diante das tremendas dificuldades que nos cercam.
"Sejamos sóbrios" é a palavra de ordem. Sóbrio, num primeiro sentido, é não ficar embriagado, como o contexto do capítulo cinco sugere, mas é um jogo de ideias que o apóstolo faz com os leitores. Em grego, a palavra sóbrio tem esse sentido primário, mas também se estende para significar "estar calmo e sereno de espírito" e "ser moderado, controlado, circunspecto". Seria fácil só dizer, mas como realizar isso? E o texto responde: "vestindo a couraça da fé e do amor e o capacete da esperança da salvação."
A couraça é um equipamento de guerra que protege o tórax, os órgãos vitais. A fé e o amor têm esse poder. Tiram o medo e nos fazem lembrar de nosso protetor invisível aos olhos, mas real e presente. O amor impede, que ao nos protegermos, nos tornemos frios e egoístas e nos impulsiona a cuidar do outro. Quem cuida de alguém geralmente esquece a própria dor. Temos fé e amor.
"O capacete da esperança da salvação" protege a cabeça, a mente. Com os pensamentos voltados para a certeza da salvação, aquela convicção profunda que tem todo aquele que está firmado em Jesus, o único Salvador e Senhor, não ficamos deprimidos e desanimados. Para nós tem luz o tempo todo, por mais escuro que pareça o túnel. Para nós, não há fim, só transições. Vemos a vida frágil à luz da eternidade.
Assim podemos ser sóbrios, estar calmos e ter paz de espírito. Não é alienação. É comportamento consciente, porque a sobriedade nos tira do ócio e nos leva à ação. Diz o apóstolo, no v. 11: "Por isso, exortem-se e edifiquem-se uns aos outros, como de fato vocês estão fazendo". Fico satisfeito ao ver como as pessoas se tornaram mais solidárias, ajudando até sacrificialmente aos carentes ao redor, sejam necessitados material ou emocionalmente. Além disso, trocam palavras de ânimo, despertando o entorpecido para vida que faz sentido. Edificam-se e saem fortalecidos.
Tudo isso porque Jesus "morreu por nós para que, quer estejamos acordados quer dormindo, vivamos unidos a Ele." Sim, dormimos em paz, despertamos serenos em espírito. Estamos unidos a Ele porque Ele vive e está conosco para enfrentarmos cada dia. Esperança da salvação. Levantamos a cabeça e sorrimos. Ainda estamos vivos!
Fique bem. Fique em paz. Seja sóbrio.
Com carinho,
Pr. Manga

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