Quando Deus fala sozinho

Isaías 65:1-2

Temos a tendência de pensar que a bênção de chamar Deus de Pai é coisa do Novo Testamento. Sem dúvida não dá para comparar as vezes em que Deus é chamado de Pai no Novo Testamento com as ocasiões em que isso ocorre no Antigo. Mas há uma enorme diferença nas duas eras.

Só três profetas reproduziram a fala de Deus quando Ele Mesmo Se chamou de Pai ou foi chamado de Pai. Nas outras ocorrências da ideia de paternidade, em que a palavra Pai nem aparecia, era o conceito de Deus como criador, não a intimidade do relacionamento Pai e filhos. Deut 32:6 diz: "É assim que retribuem ao Senhor, povo insensato e ignorante? Não é ele o Pai de vocês, o seu Criador, que os fez e os formou?". Veja-se, também, Oseias 1.10 no final do versículo: "Vocês são os filhos do Deus vivo". O embrião do conceito de Deus-Pai está em Êxodo 4:22-23, onde lemos "Israel é o Meu primeiro filho" (NVI) e "Deixe Meu filho ir", ainda pesando para o lado de 'povo que Deus criou para Si'. Somente Jeremias, Isaías e Oseias trazem o sentido amoroso e preocupado de Deus como Pai, nas palavras dos profetas ou do Próprio Deus.

Nessas ocasiões, Deus fala sozinho.

Não pude deixar de lembrar da parábola do filho pródigo, inserida só em Lucas 15, no contexto de buscar o que estava perdido. Aí encontramos a parábola da ovelha perdida, da moeda perdida e, em sequência, do filho perdido. A maioria das vezes em que ouvi sermões sobre essa passagem, diziam que o pai ia para o portão da fazendo todos os dias esperar o filho. Não há isso no texto, Mas quem é pai pode entender mais perfeitamente que isso estava no coração do fazendeiro. O Pai, com inicial maiúscula, já traduzindo o paralelo com Deus, vê o filho de longe e, cheio de compaixão, corre ao seu encontro e o recebe sem recriminação. Feliz encontro.

Isaías 65:1-2 "Fiz-me acessível aos que não perguntavam por mim; fui achado pelos que não me procuravam. A uma nação que não clamava pelo meu nome eu disse: Eis-me aqui, eis-me aqui. O tempo todo estendi as mãos a um povo obstinado, que anda por um caminho que não é bom, seguindo as suas inclinações.

Quantas vezes Deus tem dito "Eis-Me aqui, eis-Me aqui", o tempo todo estendendo as mãos a um povo obstinado que anda por um caminho que não é bom, ignorando e até zombando Daquele que é o Caminho, a Verdade e a Vida. A humanidade sempre seguiu suas inclinações em detrimento da voz de Deus. Deus falava sozinho, falava para ouvidos moucos. O coração do Pai sempre foi "eis-Me aqui". Jer 3.19 retrata a angústia do Pai desprezado: ""Eu mesmo disse: "Com que alegria eu a trataria (a nação de Israel) como se tratam filhos e lhe daria uma terra aprazível, a mais bela herança entre as nações. Pensei que você me chamaria de ‘Pai’ e que não deixaria de seguir-me." A frustração de Deus, se me permitem a antropopatia, está estampada em "Pensei que você me chamaria de 'Pai'.

E quem aparentemente afirmava crer na paternidade era só hipócrita. Malaquias retrata o contraste entre as palavras e o coração do homem: Mal 1:6 "O filho honra seu pai, e o servo o seu senhor. Se eu sou pai, onde está a honra que Me é devida? Se eu sou senhor, onde está o temor que Me devem? ", pergunta o Senhor dos Exércitos a vocês, sacerdotes. "São vocês que desprezam o Meu nome!". Se os responsáveis não dão exemplo, como desejar que os influenciados façam o que líderes não fazem. Essa é uma chamada aos pais, hoje, os sacerdotes do lar, que, em contraponto ao Deus que fala sozinho, não falam nada. Quem vai mostrar Deus a seus filhos?

Isaías 1:2: Ouçam, ó céus! Escute, ó terra! Pois o Senhor falou: "Criei filhos e os fiz crescer, mas eles se revoltaram contra mim." Apesar de não obter a resposta desejada, Deus nunca desistiu. O próprio profeta Isaías descreve o coração do Pai Eterno em Is 63:8-10a, onde lemos: "'Sem dúvida eles são o Meu povo', disse Ele; 'são filhos que não Me vão trair'; e assim Ele se tornou o Salvador deles. Em toda a aflição do seu povo Ele também se afligiu, e o anjo da sua presença os salvou. Em seu amor e em sua misericórdia Ele os resgatou; foi Ele que sempre os levantou e os conduziu nos dias passados."

O Deus que nos é Pai Se aflige com nossa aflição e se recorrermos a Ele, Ele nos salva. Não há nenhum pecado que Deus não perdoe para ter um filho de volta. Só não há perdão para quem morre desprezando o Salvador. Em Seu amor e em Sua misericórdia, Deus nos resgata. Ele sempre nos levantou e nos conduziu nos dias passados. É Ele que nos sustenta e conduz hoje. Deus é Pai.

Aqui está nossa paz. Aqui está nossa certeza, não porque nós o imaginamos, mas porque Aquele que o declarou é Deus vivo para tornar isso realidade: "Eu disse: vocês são deuses, todos vocês são filhos do Altíssimo" (Salmo 82:6). Filhos de Deus deusinhos são. Não deixe Deus falando sozinho.

Com carinho,

Pr. Manga.