O Deus Mau
- JUBCor
- 30 de jul. de 2020
- 4 min de leitura
O mundo está cada vez mais pagão e numa inversão da Gênese, criou um deus à sua imagem e semelhança, um deus iracundo, distante, de relacionamentos interesseiros, impotente, cruel, explorador dos pobres e ingênuos. As pessoas ficam iradas contra Deus porque ele não é como o Super-homem sempre aparecendo no último segundo para salvar a vítima em potencial. A não ser que você fosse a namorada do herói, estaria sem chance: morrem 120 pessoas por minuto no planeta, isto é, duas por segundo. Seria impossível para o homem de aço, com supervelocidade e superforça, salvá-las, por mais próximas que estivessem umas das outras. Mas nem o super-homem tinha o poder de salvar os doentes e idosos.
A nossa formação determina o que vamos pensar de Deus. O que ouvimos de nossos pais e em nossos círculos de influência fica gravado em nossa mente e se solidifica num conceito pessoal, mas que vai nortear cada decisão do futuro. A forma como concebemos o Deus do Universo determina como vamos ou não vamos nos relacionar com Ele.
Há duas histórias na Bíblia que ilustram isso perfeitamente. Uma está no Novo Testamento, numa parábola contada por Jesus em Mateus 25, a Parábola dos Talentos. Na versão de Mateus, três pessoas recebem cinco, dois e um talento, respectivamente. Na narrativa de Lucas, são dez talentos, cinco e um. Mas os personagens agem da mesma forma. Os que receberam mais talentos investiram o dinheiro e obtiveram 100% de lucro para o seu senhor. O que recebeu um só, enterrou-o e não obteve lucro algum. Quando o senhor daquela terra volta e pede contas a cada um, alegra-se com os investimentos feitos e premia os bons servos.
E aí chega a vez do que recebera um só talento. O texto bíblico está nos versículos 24-27 de Mateus 25 e nos diz assim: "Chegando, por fim, o que recebera um talento, disse: Senhor, sabendo que és homem severo, que ceifas onde não semeaste e ajuntas onde não espalhaste, 25 receoso, escondi na terra o teu talento; aqui tens o que é teu. 26 Respondeu-lhe, porém, o senhor: Servo mau e negligente, sabias que ceifo onde não semeei e ajunto onde não espalhei? 27 Cumpria, portanto, que entregasses o meu dinheiro aos banqueiros, e eu, ao voltar, receberia com juros o que é meu."
O homem que recebera um só talento tinha um preconceito sobre seu senhor. Esse conceito adquirido de ouvir falar e não da experiência fez com que ele agisse erradamente, nem sequer racionalmente. Para ele, seu senhor era um homem severo, um oportunista que ceifa onde não plantou e recolhe o que não é dele para recolher. Ele confessa que teve medo do seu senhor na palavra "receoso". Seus receios o impediram de pensar corretamente. Bloqueado, sem saber o que fazer, enterrou o dinheiro. Pelo menos não seria roubado. Como justificativa para seu erro, culpa o patrão. Em outras palavras, está dizendo: "Eu agi assim porque o senhor é assado". O que nos faz lembrar que o comportamento dos outros nunca deve ser justificativa para o nosso, haja vista os saqueadores de lojas nas revoltas populares.
O senhor da terra não tenta se defender. Seria inútil, despropositado e apenas prolongaria o inevitável. Não se conhece alguém pelo que a pessoa diz que é. Só comendo o proverbial quilo de sal juntos é que vamos observando as intenções, as atitudes, as reações e os comentários. Só o convívio nos ensina a conhecer alguém. Que o digam os casados. O senhor daquele homem devolve suas impressões na forma de uma pergunta: "Servo mau e negligente, sabias que ceifo onde não semeei e ajunto onde não espalhei?". O juízo veio logo no vocativo: era um servo mau, porque julgou e condenou sem conhecer. Era um homem negligente, pois recebera uma responsabilidade e deveria ter feito o mínimo, que talvez não lhe garantisse um prêmio e um elogio como os outros dois receberam, mas teria feito algo justo.
A outra história é exatamente o oposto e está no Antigo Testamento. Agora Deus é percebido como o Deus bom, mas a reação do homem continua sendo errada. Deus enviara Jonas para anunciar que se não houvesse mudança de atitude, isto é, arrependimento em Nínive, toda a cidade seria castigada. Em apenas um dia de pregação, numa cidade que levaria três dias para atravessar, as palavras chegaram às autoridades que decretaram jejum, oração e arrependimento nacional. Mas vejamos a reação do profeta, Jonas 4:1-4:
"Jonas, porém, ficou profundamente descontente com isso e enfureceu-se. 2 Ele orou ao Senhor: “Senhor, não foi isso que eu disse quando ainda estava em casa? Foi por isso que me apressei em fugir para Társis. Eu sabia que tu és Deus misericordioso e compassivo, muito paciente, cheio de amor e que prometes castigar mas depois te arrependes. 3 Agora, Senhor, tira a minha vida, eu imploro, porque para mim é melhor morrer do que viver”.
4 O Senhor lhe respondeu: “Você tem alguma razão para essa fúria?”"
Na oração, Jonas declara que Deus é misericordioso, compassivo, muito paciente, cheio de amor e flexível. O profeta prefere morrer a viver com um Deus assim. Vai entender!
Entendemos, sim, que as emoções do homem, suas atitudes e comportamento, afinal, não têm a ver com como Deus é de fato, mas apenas com as expectativas das pessoas. E Jonas queria ver o fogo descer do Céu e destruir a todos os pecadores, sem salvar uma alma sequer. Até Abraão pediu misericórdia para Sodoma e Gomorra se lá houvesse ao menos dez justos. Ao vermos tanta injustiça no mundo gostaríamos que Deus fosse como o senhor dos talentos, severo, castigando a tudo e a todos, numa compensação e contrarreação por nossa impotência diante das "regras do jogo" num mundo sem regras.
E, como o senhor da parábola, Deus também responde com uma pergunta: "Você tem alguma razão para essa fúria?".
A lição para nós é faça o que você deve fazer sem reclamar e dê graças a Deus pelas oportunidades dadas. Deus terá imisericórdia de quem Ele tiver misericórdia. Ele é bom, compassivo, muito paciente, mais que todos nós juntos, e cheio de amor. Ah se nós soubéssemos o que Deus sabe, ah se nós conhecêssemos como Deus é de fato e não o deus de nossas imaginações! Não pense que Deus está ausente porque há tantas pessoas que se ausentam de Deus. Façamos a nossa parte, vamos investir nossos talentos e habilidades, dons e aprendizado para o nosso bem, em prol dos outros e o do Reino de Deus, onde todos são beneficiados.
Fique bem. Fique em paz. Fique com Deus.
Com carinho,
Pr. Manga

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