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O Casamento que Morreu de COVID

  • Foto do escritor: JUBCor
    JUBCor
  • 5 de ago. de 2020
  • 4 min de leitura

Não escrevi o devocional na terça-feira porque nosso cãozinho passou mal durante a noite, ainda lutando contra a chamada "doença do carrapato", um protozoário transmitido pelo inseto enquanto está sugando o sangue do hospedeiro. Passei cinco horas no veterinário. Em dado momento, uma senhora entra com seu cachorrinho numa daquelas gaiolas para animais. De graça, foi logo abrindo o coração e deixando a angústia fluir num desabafo que ia muito além de sofrer com a doença do bichinho:

─ Assim que o cartório abrir eu vou dar entrada no processo de divórcio, disse irritada, sem um "bom dia" nem um "como vai?".

─ Que houve?, perguntei.

─ Eu não aguento mais e ele não aguenta mais, também. Então vou me separar.

Meus muitos anos de aconselhamento pastoral não podiam deixar isso passar como conversa fiada. Perguntei:

─ Mas o que está acontecendo?

Apesar de não ser ovelha do rebanho que eu cuido, ela não hesitou em explicar sua dificuldade:

─ Meu marido não gosta dos meus bichos, reclama deles o tempo todo, não quer mais animais em casa. Então vou me separar. Já decidi.

─ Isso sempre foi assim?

─ Não. Já tenho meus animais há muito tempo, agora é que resolveu ficar assim.

─ Alguma razão especial? Ele reclama de quê?

─ Ele não aguenta nem ver o cachorro. Antes, ele saía de casa todos os dias para trabalhar, mas agora fica preso dentro de casa e briga comigo o tempo todo por causa do cachorro.

─ E vocês são casados há quanto tempo?, quis saber.

─ Dezessete anos, disse ela.

─ Mas isso não é motivo para um divórcio, é?

─ É que a gente já tinha outros problemas, então o melhor é separar.

─ Isso tudo é estresse por causa da quarentena, respondi, tente ser mais paciente e não jogue seu casamento fora por causa disso. Não é hora de tomar uma decisão tão radical. Espere esta pandemia passar.

Fui chamado para colocar o soro no meu cachorro e não pude mais conversar com aquela senhora. Dificilmente a verei novamente. Como tantos outros atestados de óbito cuja verdadeira causa não foi revelada, o desse casamento também teve COVID-19 como causa mortis.


O texto de hoje está em 1Coríntios 13:7. Desta vez uso a versão francesa "Novo Francês Corrente (ou atual)" que, traduzida, diz que o amor "enfrenta toda circunstância, guarda a fé, espera e persevera."


Que Deus abençoe Sua Palavra.


O capítulo 13 de 1Coríntios não foi escrito pensando-se num relacionamento conjugal. O contexto era o do convívio pacífico entre os irmãos nas igrejas, para que as tendências mundanas do orgulho, do status e da cizânia não afetassem a comunhão e serviço dos cristãos. Como fala de amor, é provavelmente o texto mais usado em cerimônias de casamento, seculares ou religiosas. E com razão.


Não é fácil permanecer casado. A quarentena demonstrou isso. Os relacionamentos que se deterioraram ao nível da mera tolerância e conveniência não resistiram à "prisão domiciliar". O convívio esporádico se tornou permanente, sem que houvesse a devida preparação para isso, já que a maioria das pessoas não estudou sobre o casamento e se casou achando que seria a paixão do namoro para sempre. Só que namoro não tem contas para pagar, filhos para educar e animais de estimação com os quais ficar o dia inteiro. O tédio e a rinha tomam lugar do romance e muitos casais, que antes tanto se amavam, sucumbem ao ficar 24 horas por dia juntos, sete dias por semana.


Com Deus, tudo é sempre mais fácil. Nosso Pai nos avisou que teríamos aflições neste mundo. Não prometeu livrar-nos de ter aflições, mas que, quando elas chegassem, nos ajudaria a enfrentá-las com sabedoria. Por isso, o texto bíblico lido é tão relevante. Para quem não se lembra, amar é desejar e fazer o bem ao próximo mesmo que não seja conveniente. A reciprocidade esperada no relacionamento a dois garante o bem-estar de ambas as partes. Quem ama enfrenta toda circunstância, feito promessa de altar, na riqueza e na pobreza, na alegria e na tristeza, na saúde e na doença. Infelizmente, muitos acrescentaram mentalmente um "desde que a pobreza, a tristeza e a doença sejam bem curtas", por influência de um mundo interesseiro e descompromissado com o bem do outro.


A instrução do Fabricante de nossas almas é: enfrente a circunstância. Não fuja. Guarde a fé, não desvincule nada na sua vida de seu relacionamento com Deus, continue confiando nEle porque Deus é fiel e leal, bondoso e misericordioso e nos deu Seu Espírito como consolador e guia. Espere. Poucas coisas são de resolução imediata. A pandemia, por exemplo, vai afetar o planeta por cerca de dois anos. É muito difícil fazer uma vacina contra retrovírus. Até hoje o vírus HIV não tem e já se vão mais de quarenta anos de infecções, que por sinal aumentaram muito na última década de promiscuidade. Calar não é enfrentar. Ocultar não é resolver. A vida de faz-de-conta não tem sustentação prolongada. Mas o enfrentamento com fé sabe esperar, com dor e tudo, mas espera. Por ter esperança não em si, nem nos governos deste mundo nem em suas organizações duvidosas, mas em Deus, os que amam perseveram. Não desistem. E seguem juntos, um cuidando do outro, até o fim.


Podemos ter grandes perdas no processo da vida, mas não estamos sozinhos. Suportamos o temporário pela felicidade do permanente, do eterno. Por que viver só, sem experimentar a graça do Criador? Infelizmente, tem muita gente que declara não gostar de algo que nunca sequer provou. Feito quem diz que detesta comer caramujo, mas nunca provou um, nem comeu filé de escargot gratinado ao alho.


A instrução bíblica faz bem: enfrente tudo o que vier, confiando em Deus, mantendo sua esperança em Deus e perseverando, porque a vida se vive um dia de cada vez. De um jeito ou de outro, tudo se resolve, ou porque o problema deixa de existir ou porque aprendemos a conviver com ele de forma salutar. Não desista.


Fique bem. Fique em paz. Fique com Deus.


Com carinho,

Pr. Manga




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