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Ninguém anda nos picos das montanhas

  • Foto do escritor: JUBCor
    JUBCor
  • 22 de out. de 2020
  • 3 min de leitura

Faz cerca de trinta dias que Francisco, pai de minha norinha, foi para a UTI do COVID-19. Seu quadro se agravou rapidamente e, logo nos primeiros dias de internação, teve uma prolongada parada cardíaca. Pela graça de Deus, foi reavivado e todos os parentes, amigos, irmãos da igreja e até desconhecidos se comprometeram em orar por ele. Acompanhamos boletins médicos e vimos sua condição piorar ainda mais. Acompanhamos a angústia de sua esposa e filhas e nos juntamos a elas em sua dor. A igreja chegou a fazer uma carreata na frente da casa delas para levar algum ânimo nos louvores, palavras e oração. Era o vale da sombra da morte.


É assim que o salmista coloca esses momentos difíceis: "Ainda que eu ande pelo vale da sombra da morte" (Salmo 23:4).


É, quase sempre, impossível caminhar nos picos das montanhas. É possível que alguém suba até o alto. São nossos momentos de vitória e alegria, uma breve celebração que muitos confundem com felicidade. Lá no alto, não há sombras. Paradoxalmente, é no topo da montanha onde está o risco maior e as quedas podem ser fatais. A vida aí é fugaz e o gostinho da glória dura um suspiro. Se queremos avançar na vida, temos de descer e andar nos vales.


É nos vales que os caminhos são feitos. Os vales são planos e muito mais longos do que os picos. Alguns são largos, ensolarados e desimpedidos, outros são bem estreitos e não há muita lateralidade. E todos nós, sem exceção, vamos passar por vales sombrios, pedregosos e frios, desde as pequenas incertezas da vida aos desafios da morte.


O texto de hoje está em João 14:1, que nos diz: "Não se turbe o vosso coração; credes em Deus, crede também em mim."


Jesus e os discípulos estavam à véspera da prisão e morte do Cristo. Os sentimentos eram os mais diversos. Os três efes do pânico se manifestam. Na psicologia, a expressão três efes vem das iniciais das reações comuns ao perigo: Freeze, Fight ou Flight, respectivamente "congelar", que é ficar paralisado de medo, sem saber como agir, "lutar", enfrentando a situação com todas as forças, e "fugir", que dispensa explicação. Alguns discípulos estavam dispostos a lutar e morrer com Jesus. Outros não sabiam o que fazer e ficaram paralisados e um fugiu seminu quando o agarraram pelas roupas. Os vales da sombra da morte são difíceis de atravessar, se tentamos enfrentá-los com nossos recursos humanos. Nem muito dinheiro pode garantir a vida. Os amigos não podem ajudar muito. Contra a morte, somos impotentes. Como não ficar turbados?


Das acepções do verbo turbar, duas nos interessam: escurecer e "agitar, perturbar, desassossegar". O vale da sombra escurece nossa vista. Turbados, não vemos direito e não decidimos sabiamente. Consequentemente, ficamos agitados e sem sossego. Perdemos o apetite, nada nos interessa, ficamos perturbados.


Jesus, que vê o mais profundo de nosso coração e lê nossos pensamentos antes que as palavras se formem, Se antecipa nesses momentos e nos diz o "não se turbe o vosso coração". Remete-nos novamente ao salmista na continuação do versículo quatro: "não temerei mal nenhum, porque Tu estás comigo; o Teu bordão e o Teu cajado me consolam". Note bem a promessa: consolo. Não o fim do vale. Mas força para atravessá-lo. Deus nunca prometeu que não teríamos aflições e problemas. Ele disse que estaria conosco sempre. Nos picos e nos vales. Lá no alto, cantamos louvores e damos graças. Lá embaixo, nos agarramos ao Seu cajado e sentimos que não estamos sós.


Jesus, que não é alheio à nossa dor, chorou pela Jerusalém de coração duro (Lucas 19:41). Comoveu-Se por Maria e chorou por Lázaro (João 11:33, 35). Ele disse a Marta, outra irmã de Lázaro, "Não te disse Eu que, se creres, verás a glória de Deus?" (João 11:40). Esse Mesmo Senhor nos diz, hoje, como dissera aos doze: "Não se turbe o vosso coração; credes em Deus, crede também em mim". É no vale da sombra que mais precisamos da luz do Salvador e da Sua garantia de vida eterna. Só confiando nEle não ficaremos entenebrecidos nem confusos. Ele atravessa o vale conosco e Ele Mesmo Se torna o Caminho. O fardo fica mais leve e o Criador toma conosco o nosso jugo. Cumpre-se, em cada travessia, a promessa em Isaías 41:13: "Porque Eu, o SENHOR, teu Deus, te tomo pela tua mão direita e te digo: Não temas, que Eu te ajudo."


Ontem, Francisco saiu da sedação e abriu os olhos. Saiu da sombra e, se Deus quiser, logo estará em casa. Esse vale está chegando ao fim. E você? Com quem caminha?


Fique bem. Fique em paz. Fique com Deus.

Com carinho,

Pr. Manga



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