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A orelha de Malco

  • Foto do escritor: JUBCor
    JUBCor
  • 4 de ago. de 2020
  • 7 min de leitura

Começo o devocional de hoje já com o texto bíblico, que se encontra em João 18:1-11:

"Tendo terminado de orar, Jesus saiu com os seus discípulos e atravessou o vale do Cedrom. Do outro lado havia um olival, onde entrou com eles.

2 Ora, Judas, o traidor, conhecia aquele lugar, porque Jesus muitas vezes se reunira ali com os seus discípulos. 3 Então Judas foi para o olival, levando consigo um destacamento de soldados e alguns guardas enviados pelos chefes dos sacerdotes e fariseus, levando tochas, lanternas e armas.

4 Jesus, sabendo tudo o que lhe ia acontecer, saiu e lhes perguntou: 'A quem vocês estão procurando?'

5 “A Jesus de Nazaré”, responderam eles.

“Sou eu”, disse Jesus.

(E Judas, o traidor, estava com eles.) 6 Quando Jesus disse: 'Sou eu', eles recuaram e caíram por terra.

7 Novamente lhes perguntou: 'A quem procuram?'

E eles disseram: 'A Jesus de Nazaré'.

8 Respondeu Jesus: 'Já lhes disse que sou eu. Se vocês estão me procurando, deixem ir embora estes homens'. 9 Isso aconteceu para que se cumprissem as palavras que ele dissera: 'Não perdi nenhum dos que me deste'.

10 Simão Pedro, que trazia uma espada, tirou-a e feriu o servo do sumo sacerdote, decepando-lhe a orelha direita. (O nome daquele servo era Malco.)

11 Jesus, porém, ordenou a Pedro: 'Guarde a espada! Acaso não haverei de beber o cálice que o Pai me deu?'"

Que Deus abençoe a Sua palavra dando-nos entendimento e sabedoria.

Era noite de quinta-feira. Jesus tomara a ceia com os discípulos e fora para o olival, um local afastado, fora dos muros de Jerusalém. Segundo Mateus 26:40,42 e 44, Jesus passou três horas em oração, aquela do famoso "passa de Mim este cálice". Era, portanto, avançada a noite, na sua hora mais escura, por volta de três da manhã. Judas foi o guia dos que prenderiam Jesus. Sem Judas, não conseguiriam encontrar o Mestre e Seus discípulos. Como a área era grande para a busca e prisão, temendo uma represália, Judas levou um destacamento de soldados romanos, que era composto de 480 homens armados, fora os oficiais e a turma de apoio. Além desses, foram também alguns guardas judeus enviados pelo sumo sacerdote e os chefes fariseus. O fato de terem tochas e lanternas demonstra que o olival era um local escuro àquela hora da noite. Assim, havia mais de quinhentos homens para prender um só. No v.4, vemos que Jesus sabia tudo o que lhe ia acontecer e adiantou-Se. Antes que falassem alguma coisa, facilitou o processo perguntando a quem procuravam.


A fama de Jesus como uma pessoa excepcional o precedia. Todo aquele grupo caiu por terra só por Jesus ter dito "Sou Eu". Não era para menos. Em tantas outras ocasiões, Jesus usou as mesmas palavras na ordem inversa para declarar quem era: "Antes que Abraão existisse, Eu sou" (João 8:58). Ou Jesus era doido ou Jesus era Deus encarnado. O "Eu sou" era muito conhecido dos judeus, desde Moisés, quando este perguntou a Deus quem o enviava ao Egito para libertar os hebreus, Êxodo 3:14: "Disse Deus a Moisés: 'Eu Sou o que Sou. É isto que você dirá aos israelitas: Eu Sou me enviou a vocês'". Até os pagãos reconheceram o poder nas palavras do Carpinteiro. Diante dos fatos e da comprovação de Jesus ser extraordinário, recuaram e caíram no chão. Certamente tropeçaram uns nos outros e caíram. Jesus deu-lhes tempo para se colocarem em pé novamente.


Quando nos encontramos com o Jesus real, o Jesus da Bíblia como Se apresenta, nossos pecados pesam em nossos ombros. Diante de um homem de 33 anos perfeito e sem pecado, nosso pecado fica muito maior e mais pesado, pois muitos de nós somos bem mais velhos que o jovem Salvador e estamos muito longe de Sua santidade. O confronto é salutar, pois Jesus não quer nos deixar derrubados e vencidos. Aos que o perseguiam não o fez, mas para nós, estende a mão e nos ajuda a levantar. Jesus nos dá tempo para ficar em pé novamente, agora como homens transformados pelo encontro com o divino.


Vendo-os recompostos, Jesus pergunta novamente: "A quem procuram?" E eles respondem de novo, tentando reaver um pouco do orgulho caído no chão, como se nada tivesse acontecido: "A Jesus de Nazaré". Lá em Nazaré teria sido chamado pelo nome completo, Yeshua Benyoussef, Jesus Filho de José. Aqui o Pai é outro e ainda mais nobre a missão: "'Já lhes disse que sou Eu. Se vocês estão Me procurando, deixem ir embora estes homens'. 9 Isso aconteceu para que se cumprissem as palavras que ele dissera: 'Não perdi nenhum dos que me deste'.


A preocupação de Jesus é não perder ninguém, isto é, que nenhum dos Seus discípulos morra. Mesma intenção de hoje. Que não haja perdidos, mas que todos fiquem sãos e sejam salvos.

Impetuoso, Pedro pensa que agora é a hora de morrer pelo Mestre e, sozinho, investe contra os quinhentos, empunhando uma espada especialmente afiada para um momento assim. Devia ter estado bem perto de Jesus, tirou sua espada e feriu o servo do sumo sacerdote, Malco, decepando-lhe a orelha direita.


Sempre preguei sobre essa passagem assim, imaginando o movimento da espada em direção à cabeça de Malco como um ataque de cima para baixo, como se Pedro quisesse partir o servo ao meio e Malco tivesse se movido para o lado, num reflexo, salvando a cabeça, mas perdendo a orelha. Nesse caso, a espada teria feito um estrago tremendo no ombro do rapaz. Noutra tentativa de ilustrar o fato, o movimento da espada teria sido da esquerda de Pedro para a direita, tentando decepar a cabeça de Malco, mas este teria deitado a cabeça em tempo e só a orelha foi cortada. Mas teria sido uma impossibilidade, pois até onde se sabe, Pedro não era canhoto. Como cortar a orelha direita de Malco com o braço direito em movimento?


Nada disso. Não houve luta, não houve ataque, não houve um grito de guerra e de morte. Pedro simplesmente tirou a espada e num movimento rápido e preciso, colocou-a debaixo da orelha de Malco e levantou a lâmina, decepando apenas a orelha do servo do sumo sacerdote. Por que faria isso? Os judeus tinham um preconceito tremendo contra pessoas incompletas, especialmente se o membro em falta fosse do lado direito do corpo. O servo do sumo sacerdote, sem a orelha, não poderia mais desempenhar suas funções no templo e perderia seu emprego e viveria humilhado o resto da vida. Essa foi toda a vingança de Pedro.


Mas esse não é o plano de Jesus. Ele não quer humilhar ninguém nem tornar pessoa alguma incapaz para o serviço. Ao contrário. Imediatamente Ele repreende Pedro. Mateus conta com mais detalhes do que João o que aconteceu:

Mat 26:52 Jesus, porém, reagiu: “Não! Ponha a espada de volta na bainha! Quem faz uso da espada por ela será morto. Não entendem que eu poderia agora mesmo clamar a meu Pai, e doze exércitos de anjos — até mais, se Eu quisesse — viriam combater a Meu favor? Mas, se Eu fizesse isso, como se cumpririam as Escrituras? Elas dizem que tem de ser assim” (A Mensagem).


Se Jesus optasse por uma batalha, não teria apenas um destacamento, mas convocaria logo doze exércitos de anjos ─ até mais, se quisesse! Como já entendemos, Jesus não veio estabelecer Seu reino em um lugar na terra, mas em todos os lugares, reinando não num castelo, mas em cada coração! Deus não veio impor Sua vontade, mas convidar a humanidade a uma nova realidade, novos valores e princípios. Se Ele quisesse, mandaria anjos em guerra, mas isso só iria resultar em revolta dos governantes e dos familiares, que se ressentiriam contra o Criador mais do que já o fazem. A estratégia é outra e Jesus a explica: "Guarde a espada! Acaso não haverei de beber o cálice que o Pai me deu?"


Só Lucas, o médico investigador, nos conta a cura, já que isso o impressionava grandemente, pois ele, médico, não podia curar assim: Lucas 22:51 "Jesus, porém, respondeu: “Basta!” E tocando na orelha do homem, ele o curou". Jesus tocou o local onde estivera a orelha direita de Malco e o curou. Ele não foi catar a orelha onde, sabe-se lá, tinha caído. Não teria liberdade para tanto. Mas Sua presença imponente lhe permitiu, desarmado e calmo, tocar a ferida de Malco e restaurar-lhe a orelha e o ministério. Entre mais de 500 pessoas, só duas tiveram seus nomes citados, Judas e Malco. Judas fazia parte do cumprimento das Escrituras na traição ao Mestre. Malco tornou-se testemunha viva de um milagre a mais, o último milagre de Jesus. Verificável. Visível durante décadas depois do fato. Lucas, como ele mesmo declarou no início de seu evangelho e do livro de Atos: Lucas 1:3 "Eu mesmo investiguei tudo cuidadosamente, desde o começo". Ele foi atrás das testemunhas e as entrevistou. Afinal, quem tem ouvidos para ouvir, ouça. Malco quase teve, mas não teria mais essa desculpa.


Jesus veio beber esse cálice terrível e dar Sua vida para que nós tenhamos vida nova e eterna. Ele nos coloca de pé e nos restaura, tira de nós a vergonha do passado com um perdão que lava a alma e o semblante e nos transforma em Filhos do Deus vivo. Também deu-nos um cálice para beber, uma comissão. Notemos bem: Jesus tinha uma missão e a cumpriu sozinho. Nós temos uma comissão e a cumprimos compartilhadamente, cada um em seu lugar, mas todos juntos e Jesus conosco no mesmo propósito: viver como novas criaturas para alcançar as velhas criaturas ao nosso redor com o convite de reconciliação, de paz e vida do único Salvador e Senhor.


Se você não perdeu a sua orelha, ouça a razão do Redentor.

Se você já foi restaurado, beba seu cálice com alegria e cumpra o serviço que lhe foi dado por Deus com honra e destemor.


Fique bem. Fique em paz. Fique com Deus.


Com carinho e saudades,

Pr. Manga



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