A Mula sem Cabeça
- JUBCor
- 28 de out. de 2020
- 4 min de leitura
A lenda famosa no folclore brasileiro, na verdade, é ibérica. Foi trazida para cá pelos espanhóis e portugueses. No México, é chamada de Malora. Na Argentina, é Almamula, Mula Ánima, Tatá Cuñá ou Mula Frailera. Dentre as tantas variações do que hoje é um conto infantil, a versão que me chamou a atenção foi esta: se qualquer mulher namorasse um padre, seria transformada nessa mula sem cabeça que solta fogo pelo pescoço. Talvez o nome devesse ser "Mula-cabeça-de-fogo". Tinha cascos com ferraduras de prata ou de aço, o que permitia à mula destruir homens e animais que se pusessem em seu caminho. A transformação acontecia nas noites de quinta-feira. Para quebrar a maldição, alguém teria de tirar o freio de ferro que a mula carregava e, assim, surgiria uma mulher arrependida de seus "pecados". Embora a maldição caísse sobre a mulher, a intenção era proteger o celibato do padre. E se a sapeca engravidasse, "foi boto, Sinhá". Mas isso é outra lenda.
Ah, o fogo da paixão! Realmente, quando as pessoas agem sem pensar parecem mulas sem cabeça. Fazem as coisas impensadamente e correm riscos desnecessários. O fogo na cabeça bem representa a falta de calma para pensar nas consequências.
Algumas cidades começam a ter o comércio e os shopping centers abertos a partir de hoje. Nosso povo, sem pensar, parece acreditar na morte do COVID-19 por decreto. As ruas do Recife perto do Mercado São José, famoso centro comercial da cidade, estavam apinhadas de gente desde a semana passada, sem máscaras e sem preocupação. Quem dera os ingênuos não ficassem doentes. A abertura das lojas faz parte das medidas de sobrevivência de muitas famílias e da economia mundial como um todo. Não é liberação para sentar-se em grupos na calçada a conversar e comer tira-gosto. A intenção é que as pessoas possam sair de casa não para passear em ruas cheias de gente, mas fazer uma compra objetiva e rápida, evitando ao máximo se expor e expor os outros ao contágio por um vírus que, como Satanás, está vivo e ativo no planeta. Parece mesmo tentação. Ao contrário da lenda, a maldição dos sem-cabeça não vai terminar tirando o freio da mula, mas voltando a colocar arreios e freios na população. Infelizmente, não estamos no fim da crise. Estamos no início. Apenas um milhão de pessoas foi possivelmente contaminada até agora no Brasil. Ainda falta muito para uma imunização geral.
O texto de hoje está no Salmo 119:25-32. Que Deus nos abençoe com Sua Palavra e nos dê sabedoria.
25 Agora estou prostrado no pó; preserva a minha vida conforme a Tua promessa.
26 A Ti relatei os meus caminhos e Tu me respondeste; ensina-me os Teus decretos.
27 Faze-me discernir o propósito dos Teus preceitos; então meditarei nas Tuas maravilhas.
28 A minha alma se consome de tristeza; fortalece-me conforme a Tua promessa.
29 Desvia-me dos caminhos enganosos; por Tua graça, ensina-me a Tua lei.
30 Escolhi o caminho da fidelidade; decidi seguir as Tuas ordenanças.
31 Apego-me aos Teus testemunhos, ó Senhor; não permitas que eu fique decepcionado.
32 Corro pelo caminho que os Teus mandamentos apontam, pois me deste maior entendimento.
O salmista parecia viver os dias de hoje. Estamos prostrados diante da maior crise que o mundo enfrentou neste século e clamamos a Deus, porque Ele prometeu nos ajudar. Nosso lado imaturo quer acreditar que pedir a ajuda de Deus é crer que Ele vai mandar os anjos do Céu para imunizarem a população do mundo. Não foi o aconteceu com a gripe espanhola, que matou mais de cinquenta milhões de pessoas entre janeiro de 1918 e dezembro de 1920. Deus pode fazer isso, mas normalmente não age assim e tem Seus propósitos em não fazê-lo. Mas devemos, mesmo assim, clamar para que Ele preserve a nossa vida. Uma das maneiras de alcançar essa preservação, para o autor do Salmo, foi aprender os decretos de Deus, discernir os propósitos dos preceitos do Criador e meditar.
Ainda assim, diz o texto, nossa alma se consumirá de tristeza. Todas as perdas humanas são irreparáveis e insubstituíveis. Por isso, repetimos o clamor: fortalece-nos conforme a Tua promessa. Só Deus pode nos convencer de que a vida continua e de que vale a pena continuar vivendo para experimentarmos a Sua glória e sermos veículos de consolo, cura emocional e esperança.
No entanto, a ajuda vem pela orientação espiritual, pela graça e pela leitura da Bíblia, para que nos desviemos dos caminhos enganosos. Escolhemos o caminho da fidelidade e seguimos as ordenanças de Deus. Fidelidade nunca fez mal a ninguém. Quem procede por esse caminho não fica decepcionado com o Pai Eterno. Ele nos guia mansamente, não deixando nossa cabecinha teimosa queimar feito a da lenda.
Os caminhos de Deus são tão seguros que o versículo 32 diz que podemos correr pelos caminhos que Deus aponta, pois Ele nos dá maior entendimento. Quando nos desviamos pelas brenhas da vida os obstáculos nos impedem de avançar rapidamente. Corremos o risco de ficar até impedidos de caminhar até dar meia volta ou até que alguém tire os freios de ferro que cegam nosso entendimento. E foi para isso que Jesus veio, removendo o pecado do mundo, não como um super-herói, mas como um cordeiro, o Cordeiro de Deus que tira os pecados do mundo, para que a maldição do pecado seja anulada e de dentro da mula saiamos como santos arrependidos. Agora, firmados no Caminho, na Verdade e na Vida, podemos correr com segurança e bom-senso, não nos deixando levar pela multidão dos insensatos sem cabeça.
Você já recebeu esse entendimento maior que Deus oferece?
Então, fique bem. Fique em paz. Fique com Deus. E ainda fique em casa!
Com carinho,
Pr. Manga

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